Carlos Frederico Corrêa da Costa
O SALVAMENTO DO CAPITÃO DO NAVIO GREGO
Atualizado: 25 de nov. de 2021
Rubens Marques dos Santos² é uma dessas pessoas que olhando para ela percebe-se tranquilidade. É difícil imaginá-lo como militar, cuja postura tradicional transmite um certo ar de arrogância. Mais difícil ainda é vê-lo como participante de uma tropa especial, aguerrida e destinada às maiores aventuras, quer no ar, no mar, na montanha, na caatinga ou na selva, como é o caso do PARA-SAR. O Doc (de doutor em inglês), apelido do tenente-coronel médico SANTOS na Aeronáutica, percorreu todo o Brasil em missões anônimas de salvamento, tarefa que escolheu voluntariamente, levado, quem sabe, pelo seu espírito nato de servir ao próximo.
As peripécias que viveu como componente da Esquadrilha de Busca e Salvamento da Força Aérea Brasileira – PARA-SAR são muitas, porém neste artigo vou fazer uma pequena narrativa de uma das epopeias que viveu. Um navio grego estava no litoral, e tinha seu comandante passando muito mal. A embarcação saíra de Buenos Aires e se dirigia à África quando, perto da costa brasileira, o comandante passou a sentir-se muito mal e eles pediram socorro ao Ministério da Aeronáutica, através do Serviço de Busca e Salvamento. Foi pedido que o navio se aproximasse o mais possível da costa, litoral do Rio de Janeiro, que um avião Albatroz iria em seu socorro. Doc (Santos) embarcou no avião sem nenhum instrumental cirúrgico, fardado, com uma roupa paisana por baixo.
Depois de algum tempo de voo o navio foi localizado, um ponto no oceano, e Doc com paraquedas de emergência e um bote salva-vidas de borracha para uma pessoa saltou no mar. Caiu bem perto do navio, inflou o bote e espalhou "espanta tubarão" nas proximidades. A embarcação fez uma longa curva e depois de uma hora e dez minutos foi descido um escaler, Doc subiu no navio e verificou que o comandante estava muito mal e precisava ser evacuado, pois sofria de uma úlcera que tinha sofrido um estreitamento e vomitava muito, estando mesmo em estado crítico.
O Albatroz foi substituído por um helicóptero, o navio aproou em direção ao vento e foi feito o resgate em uma cestinha, primeiro o paciente depois Doc. Uma operação bonita, mas que não teve nenhum envolvimento com cirurgia, porque não se poderia operar sem recursos cirúrgicos e ambiente adequado. A imprensa chegou a publicar que Doc teria operado o comandante, o que de fato não aconteceu, mas foi uma operação que ficou marcada na Força Aérea Brasileira (FAB) por ter sido um salto de paraquedas em pleno mar, com resgate por helicóptero. O nome do Doc passou a circular na FAB por ter realizado algo inédito, ele porém, na sua modéstia, encarou o fato como um episódio comum na vida de qualquer militar do PARA-SAR.